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Na família da funcionária pública Patrícia Mallet Soares Peruzzolo, 40, os anos eleitorais marcaram mais do que as escolhas de novos governantes. Foram também momentos de decisões importantes. Com o resultado do último dia 30 de outubro, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) derrotou Jair Bolsonaro (PL) na disputa pela Presidência, chegou a vez dela tomar uma decisão: quer deixar o Brasil.
E para isso está estudando um investimento que pode chegar a US$ 30 mil (cerca de R$ 159,1 mil) para que ela e a família se tornem expatriados nos Estados Unidos. Patrícia considera pedir um green card especial, concedido a profissionais acima da média, que têm algum destaque em suas áreas de atuação.
Há cinco anos, o irmão seguiu o mesmo roteiro. Em 2014, quando a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi reeleita, ele tomou a decisão de se mudar, plano que seria concluído três anos depois.
“O Brasil foi governado pelo PT por 14 anos, agora serão 18 e talvez 22. Toda minha insatisfação durante esses anos me faz entender para onde estamos indo e onde eu não quero chegar com minha família”, diz Patricia. “Moro na cidade do Rio de Janeiro e temo a violência e a impunidade.”
A procura por imigração costuma crescer em períodos eleitorais, independentemente de quem saia vencedor. Agências especializadas em processos de pedidos de green card já registravam aumento nas consultas, intensificado conforme a data do pleito eleitoral se aproximava.
Na AG Immigration, desde o dia 29 de outubro, véspera do segundo turno das eleições, cresceram 200% as consultas de pessoas interessadas em candidaturas aos vistos especiais, principalmente para os Estados Unidos, onde cerca de 2 milhões de brasileiros vivem legalmente.
“Muita gente estava na expectativa, muda ou não muda. E aí, por uma série de razões, as eleições impulsionam a busca, pois sempre tem quem acredita que o eleito não vai executar um bom governo. Tem ainda o momento econômico dos Estados Unidos, de muitas oportunidades”, diz Rodrigo Costa, CEO da AG Immigration.
A advogada Liz Dell’Ome, que dirige o escritório de assistência à imigração que leva seu sobrenome, diz que além das eleições, os períodos de crise também são estímulos a mudanças e, nesse sentido, ela vê uma predileção pelos Estados Unidos. “Há essa ideia de ser um país em que você consegue crescer por conta própria, por ser essa grande potência econômica.”
É também essa perspectiva que guia o deseja da família de Patrícia Peruzzolo. “Acredito que nos EUA eu consiga ter melhores condições de trabalho e melhor retorno financeiro. Penso em investir em algum negócio que seja próspero para mim e para o país já que no Brasil, um país economicamente instável, esse tipo de realização é mais inviável.”
Quem está considerando imigrar para os Estados Unidos hoje tem algumas opções de vistos baseados em trabalho, os EB (employment-based). Segundo o Uscis, serviço dos EUA que cuida de imigração e cidadania, 90,6 mil vistos desse tipo foram emitidos nos dois primeiros trimestres de 2022 (as estatísticas não detalham o país de origem desses trabalhadores).
O green card que Patrícia pretende pedir é o EB 2, concedido a profissionais acima da média. Médica veterinária, ela quer trabalhar com pesquisa.
Liz Dell’Ome diz que esse tipo de green card vem ganhando atenção entre brasileiros porque ele depende de o candidato contar a própria história e demonstrar que sua formação e capacidade de trabalhar poderão impactar positivamente a sociedade e a comunidade que escolher para viver.
É também um meio de ir legalmente para o país da América do Norte sem que o pedido de green card seja patrocinado por uma empresa, ou seja, sem contrato de emprego já firmado.
“É um processo caro, que fica entre US$ 15 mil e US$ 30 mil para a família toda e atrai pessoas com certa maturidade profissional, na faixa dos 40 anos, com nível de educação elevada e com certa história para contar”, diz a advogada.
Na Dell’Ome Law Firm, a procura por esses vistos para profissionais acima da média em outubro de 2022 deu um salto na comparação com mesmo período do ano passado. Foram 125 negociações iniciadas daquela vez. Neste ano, vieram 1.222 pessoas interessadas em imigrar com o visto de residência permanente. Em setembro, foram 842 –um ano antes, eram 152.
Para Rodrigo Costa, o preço alto dos processos deve ser visto como investimento. “Você vai chegar pela porta da frente”, diz. Segundo Costa, profissionais de áreas como saúde e tecnologia estão cobiçados atualmente, elevando as chances de o alto custo do green card ser pago rapidamente.
Quais os critérios de “habilidade extraordinária” e “acima da média”?
> EB 1
Atender a ao menos 3 dos 10 itens abaixo:
> EB 2
Atender a ao menos 3 de 6 requisitos:
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